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quarta-feira, 14 de março de 2012

 Uma vontade me possuiu ao passar em frente a uma cafeteria. Lembrei – me das fotos observadas na internet daqueles lindos copos com uma substância negra dentro. Adentrei aquele local e sentei em uma das cadeiras em volta de uma mesa redonda e consultei o cardápio. Existia uma variedade enorme de modos e tipo de café. Rapidamente a dúvida de qual escolher surgiu. Qual deveria escolher? Qual agradaria meu enjoado gosto? Comecei a olhar a minha volta, no intuito de encontrar a resposta para minha dúvida. A minha frente havia uma roda de jovens. Eles gargalhavam cada um com um copo grande em sua mão, falavam blasfêmias e isto, acabou por me fazer sentir algo um tanto peculiar que a muito eu não sentia. Logo fiquei com raiva de tal alegria compartilhada daquele grupo de jovens bonitos de risos tão brancos como mármore.430044_256874187734547_231138980308068_584344_1183755978_n_large Recuei meu olhar sobre meu ombro esquerdo, havia um casal que também sorria, cada um com seu copo na mão e seus braços entrelaçados fazendo um brinde. Perguntei-me o porquê do brinde, seria aniversário de namoro? Algum plano que deu certo? Enfim, eles sorriam assim como os jovens, até tanto quanto. Olhei para meu lado direito onde havia um cara sério lendo um jornal enquanto tomava seu café. Embora não demonstrasse, um esboço de sorriso transparecia em sua face toda vez que engolia do conteúdo daquele copo, deixando amostra um par de covinhas. O garçom então apareceu e perguntou – me o que gostaria, respondi automaticamente: “O que todos estão bebendo”, pois todos sorriam me trazendo certo remorso por não saber apreciar as coisas simples. Mais rápido do que havia me atendido, o garçom trouxe meu pedido, agradeci e logo fui examinar o que havia de tão especial dentro daquele copo que todos adoravam. Assim que abri a tampa um bafo quente soprou em meu rosto e um odor invadiu minhas narinas, era diferente, mas não deixava de ser bom. O líquido contido era negro e formava um pouco de espuma. Nada demais. Experimentei um pouco e logo recuei o copo. Nunca me agradou o gosto atípico do café, e este, assim como os demais tinha gosto igual, só grãos moídos com água. Paguei ao garçom pelo o serviço e produto, tampei o copo e saindo da loja me questionei o que faria com este café agora? Mas, o meu maior questionamento era outro, não sei se estou sendo preconceituosa apenas pelo o fato de não apreciar café, mas porque de tantos sorrisos por tomar isto? Porque todas aquelas pessoas se sentiam tão satisfeitas por algo que você mesmo pode preparar em casa com a mesma eficiência? Será apenas porque está num copo bonito com uma logomarca que dá a loja um lucro exagerado? Será apenas por estética? Se for, entristeço – me pela a raça humana por visar tanto algo que em um apocalipse zumbi não valeria nada. Marca, capital, espero que não seja realmente isso, não podemos ter regredido tanto. Ao passar a esquina, ainda me perguntando o que eu faria com o café que eu carregava. Avistei um mendigo singelo, não pedia, não obrigava e muito menos ficava induzindo as pessoas a depositarem moedas na tigela a sua frente, apenas esperava que a compaixão atingisse o coração daqueles que por lá passavam. Eu o olhei, e assim que meu olhar o atingiu ele virou o rosto em minha direção e vi no seu olhar piedade, compaixão, como se ele sentisse pena por mim ao invés do contrário. De repente, não senti dúvida do que eu deveria fazer. O copo entre minhas mãos foi parar entre as mãos daquele senhor morador de rua. Após nossas trocas de olhares surpresos, ele me olhou fundo nos olhos e neste instante senti o que aquelas pessoas sorridentes deveriam ter deixado correr entre seu corpo em uma escala gigantesca, e carinhosamente, com a voz falhada o mendigo me disse: “Obrigado”, senti o sorriso surgir no meu rosto e lhe disse: “Não há de que”.  A satisfação que senti não chegava perto da satisfação das pessoas da cafeteria, disso eu tenho certeza absoluta. O mendigo não olhou o copo e muito menos tomou o líquido pelo o canudinho, para ele o que interessava realmente foi o ato de compaixão para alimentar um estômago vazio.   

   Xoxo
Shinemoon